terça-feira, 10 de maio de 2011

Um pequeno conto...

Não subestime os outros,

Nem os idolatre demais.

Seja educado(a),

mas não certinho(a).

Não minta,

nem conte toda a verdade.

Dance sozinha(o)

quando ninguém

estiver olhando.

Divirta-se enquanto

seu lobo não vem.



Um nó na garganta e o desejo de romper os véus,

derramar meu passado inteiro naquele infinito.

Dizer de cada dia que acordei sozinha

entre o cheiro de urina

e outros meninos de rua, dizer

de cada homem que me tomou

como se eu fosse um pedaço de nada

e satisfez a sanha e saiu na noite

atirando cem reais na mesa da sala.

Quis dizer e ao mesmo tempo tive

a certeza de que alguns segredos

são segredos para sempre,

eu acreditava nisto, contestando a própria Bíblia.

Um eco de uma fala da infância.

Os sermões vibrantes do Padre Chico,

naquelas missas em que minha mão

suava segurando a mão da mãe

e que o cheiro de velas rescendia

pela igreja pequena.

A âmbula reluzente que o padre tirava do

sacrário e o som da sineta estridente.

A fumaça negra que espargia quando

o coroinha sacudia o turíbulo.

O silêncio na hora de ajoelhar-se e

a sacralidade em cada objeto –

no cálice, na patena, na hóstia, nos castiçais.

Naquele tempo eu ouvia e

guardava fragmentos da Palavra,

pesavam mais que chumbo em

minhas lembranças.

Não há nada oculto que não seja

um dia desvendado.

Meu pensamento no outrora e as mãos

de Igor recolhendo o agora.

Sonhando um lençol de estrelas para

sua amada misteriosa.

Tivestes um segredo? Destes

que podem fazer seu mundo

desmoronar em um segundo?

Tivestes que esconder o passado

entre as dobras da tua camisa?

Guardá-lo entre as rendas da tua roupa íntima?

Tivestes um segredo? Tens?

Diz-me como traduzir meu passado sem

espantar o mel da alma de Igor?

Trecho do Livro: Constelação dos Ossos –

Bárbara Lia

Quando não havia quase nada na terra

e muito nevoeiro no céu, Deus viu

que tinha tristeza nos olhos e

disse:

haja mais luz,

e as flores nasceram e as cores.

Que lindo,

disse Deus,

e recolheu-se nos aposentos.

No dia seguinte, abertas as janelas,

Deus pensou na maneira como as flores

deviam espalhar as sementes,

e disse:

cada flor tenha uma pétala borboleta,

e os jardins encheram-se de crianças.

Vou ficar aqui,

disse Deus,

e pôs escritos nos vidros.

As crianças não deram conta de nada.

Andaram aos saltos em terra mole e loira

como papinhas de aveia, nuns sítios,

e mais morena nos de alguma sombra.

Tinham salpicos nas pernas

e sardas nas bochechas.

Os cabelos iam arranjando

as cores da luz.

Mas os pés de Deus abriam crateras e

iam arrastados, a sujar as cores do chão.

Parou para descansar, pensou e disse:

que a água vá por caminhos seus

e deixe bocados de terra firme.

Apareceram rios grandes, ribeiros e arroios,

margens seguras por salgueiros,

meruges e outras ervas.

E Deus meditou muito.

Passava uma aragem fina,

de som de harpas e liras.

Deus pensou muito, nas árvores e

naquela espécie de música.

Ficou triste outra vez,

e tirou os escritos das vidraças.






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