O SILÊNCIO DAS ASAS...

O SILÊNCIO DAS ASAS...
Este é um canal aberto pelo qual atrevo-me a deixar os sentidos em incubação até que eles transcendam e se transformem numa febre ardente,louca, amável e pensante,para que os olhos trafeguem livres por entre as imagens mudas sobre o grito das palavras soltas. Porém cada fragmento aqui lapidado tem cheiro de terra,jeito de arte, gosto de vida e sabor de pólem. São como as folhas esquecidas que choram no outono,é como um beijo liberto no vazio para que possa ser levado suavemente no assanhar colorido das asas inquietas das borboletas...(lucas)

O Silêncio das Asas

terça-feira, 10 de maio de 2011

Um pequeno conto...

Não subestime os outros,

Nem os idolatre demais.

Seja educado(a),

mas não certinho(a).

Não minta,

nem conte toda a verdade.

Dance sozinha(o)

quando ninguém

estiver olhando.

Divirta-se enquanto

seu lobo não vem.



Um nó na garganta e o desejo de romper os véus,

derramar meu passado inteiro naquele infinito.

Dizer de cada dia que acordei sozinha

entre o cheiro de urina

e outros meninos de rua, dizer

de cada homem que me tomou

como se eu fosse um pedaço de nada

e satisfez a sanha e saiu na noite

atirando cem reais na mesa da sala.

Quis dizer e ao mesmo tempo tive

a certeza de que alguns segredos

são segredos para sempre,

eu acreditava nisto, contestando a própria Bíblia.

Um eco de uma fala da infância.

Os sermões vibrantes do Padre Chico,

naquelas missas em que minha mão

suava segurando a mão da mãe

e que o cheiro de velas rescendia

pela igreja pequena.

A âmbula reluzente que o padre tirava do

sacrário e o som da sineta estridente.

A fumaça negra que espargia quando

o coroinha sacudia o turíbulo.

O silêncio na hora de ajoelhar-se e

a sacralidade em cada objeto –

no cálice, na patena, na hóstia, nos castiçais.

Naquele tempo eu ouvia e

guardava fragmentos da Palavra,

pesavam mais que chumbo em

minhas lembranças.

Não há nada oculto que não seja

um dia desvendado.

Meu pensamento no outrora e as mãos

de Igor recolhendo o agora.

Sonhando um lençol de estrelas para

sua amada misteriosa.

Tivestes um segredo? Destes

que podem fazer seu mundo

desmoronar em um segundo?

Tivestes que esconder o passado

entre as dobras da tua camisa?

Guardá-lo entre as rendas da tua roupa íntima?

Tivestes um segredo? Tens?

Diz-me como traduzir meu passado sem

espantar o mel da alma de Igor?

Trecho do Livro: Constelação dos Ossos –

Bárbara Lia

Quando não havia quase nada na terra

e muito nevoeiro no céu, Deus viu

que tinha tristeza nos olhos e

disse:

haja mais luz,

e as flores nasceram e as cores.

Que lindo,

disse Deus,

e recolheu-se nos aposentos.

No dia seguinte, abertas as janelas,

Deus pensou na maneira como as flores

deviam espalhar as sementes,

e disse:

cada flor tenha uma pétala borboleta,

e os jardins encheram-se de crianças.

Vou ficar aqui,

disse Deus,

e pôs escritos nos vidros.

As crianças não deram conta de nada.

Andaram aos saltos em terra mole e loira

como papinhas de aveia, nuns sítios,

e mais morena nos de alguma sombra.

Tinham salpicos nas pernas

e sardas nas bochechas.

Os cabelos iam arranjando

as cores da luz.

Mas os pés de Deus abriam crateras e

iam arrastados, a sujar as cores do chão.

Parou para descansar, pensou e disse:

que a água vá por caminhos seus

e deixe bocados de terra firme.

Apareceram rios grandes, ribeiros e arroios,

margens seguras por salgueiros,

meruges e outras ervas.

E Deus meditou muito.

Passava uma aragem fina,

de som de harpas e liras.

Deus pensou muito, nas árvores e

naquela espécie de música.

Ficou triste outra vez,

e tirou os escritos das vidraças.






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