Dêem-me uma parede branca! Quero reescrever-me desde o início. Quero-me noutra história em que eu invente o princípio, sem deixar nada ao acaso. Quero saber o que faço e para quê. Quero ser dono do tempo, do espaço, desenhar as personagens a cruzar no meu caminho. Quero ser o narrador o dono, rei e senhor de uma vida desenhada a régua e esquadro por e para mim até que meu voo chegue ao fim...
O SILÊNCIO DAS ASAS...
O Silêncio das Asas
domingo, 17 de julho de 2011
The Blue - David Gilmour
Vejo tudo agora diferente,
como se o tempo contra o rio
dirigisse e de trás pra frente
eu descrevesse um livro
e cada palavra nele se tornasse
livre e me fizesse livre
e sílaba a sílaba toda a memória
desaparecesse - sumisse! -
como se na nossa frente, tudo
o que fomos um dia num passe
de mágica evaporasse num passe
de música, num passo - no ar!
Hoje, tudo dá-se a ver sem dor,
limpo,sem um traço de paixão.
Os poemas se apagaram e, repara,
façamos um balanço: DE NÓS
restou não mais que a folha livre
de depois do livro, retrato
em branco e branco.
Como um olhar desfocado em saliva e
memórias metálicas. somos rimas de muitas
rugas na lisura que nunca deixa de ser vapor.
AH COMO DÓI SER-SE veredicto do essencial.
Clique abaixo para assistir o vídeo
The Blue (David Gilmour)
Encostei-me a ti, sabendo
que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem
depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso,
e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar,
quando caí.
Cecília Meireles
Não é o coração
mas esta carne
em seu rumor.
Não é o coração
mas teu silêncio
de intenso furor.
Não é o coração
mas as mãos
sem corpo, vazias.
Na grave melodia
de um instante
tu e eu
em desequilíbrio
na infame
consistência
de um absoluto
obstáculo.
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