O SILÊNCIO DAS ASAS...

O SILÊNCIO DAS ASAS...
Este é um canal aberto pelo qual atrevo-me a deixar os sentidos em incubação até que eles transcendam e se transformem numa febre ardente,louca, amável e pensante,para que os olhos trafeguem livres por entre as imagens mudas sobre o grito das palavras soltas. Porém cada fragmento aqui lapidado tem cheiro de terra,jeito de arte, gosto de vida e sabor de pólem. São como as folhas esquecidas que choram no outono,é como um beijo liberto no vazio para que possa ser levado suavemente no assanhar colorido das asas inquietas das borboletas...(lucas)

O Silêncio das Asas

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Nuvens transitórias...


Tua imprevisibilidade desdenha da ordem constituída

dos meus dias e no remanso da tarde, tua voz

que tanto desejo ouvir, amotina meu juízo,

declara estado de sítio à minha vontade e guerra

à minha indiferença. Resisto até onde posso e assim

que avisto as pesadas nuvens, estendo as velas do meu barco triste,

para que teu vento me leve aonde bem entender.




Talvez eu devesse te invocar na página em branco, tentar entender

teu enigma no espaço entre as linhas e na pausa entre as palavras,

nas letras que respiram, na exalação silenciosa das sílabas.

Talvez não. Talvez eu devesse me recolher à minha in-significância,

reconhecer a minha incapacidade de te apreender o significado,

receber o teu mistério em meu silêncio. Talvez não.

Talvez eu devesse compreender que você não está no papel

nem fora dele, não está no pensamento nem fora dele,

não está na carne nem fora dela, mas em todas as partes

e em lugar algum. Talvez então você me respondesse.

Talvez não...



Aprendi que o amor não vive sem a amizade...
Que ele não existe com o ciúme...
Que respeito e confiança são seus alicerces...
Mas que principalmente o amor não é uma prisão...
E sim um campo cheio de flores...

Sonhe! Sonhe sempre pois

O sonho é conhecer a si mesmo

E a idéia do subconsciente

Que mostra pra gente a parte

Consciente de uma realidade possível

que somos capazes de realizar...

pois onde há uma vontade forte,

não pode haver grandes dificuldades.

Chamo os meus sonhos de esperanças....



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos

e não ver vista que não sejam as janelas ao redor.

E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora.

E porque não olha para fora, logo se acostuma

e não abrir de todo as cortinas.

E porque não abre as cortinas, logo se acostuma

a acender mais cedo a luz.

E, à medida que se acostuma, se esquece do sol,

se esquece do ar, esquece da amplidão.

A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora.

A tomar café correndo porque está atrasado.

A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo.

A comer sanduíche porque não dá para almoçar.

A sair do trabalho porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado.

A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.

E aceitando a guerra, aceita os mortos e que

haja números para os mortos.

E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz.

E não aceitando as negociações de paz, aceitar

ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone:

“hoje não posso ir”.

A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.

A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita.

E a lutar para ganhar com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.

E a fazer fila para pagar.

E a pagar mais do que as coisas valem.

E a saber que cada vez pagará mais.

E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro,

para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes.

A abrir as revistas e ler artigos.

A ligar a televisão e assistir comerciais.

A ir ao cinema e engolir publicidade.

A ser instigado, conduzido, desnorteado,

lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas

de ar condicionado e ao cheiro de cigarros.

À luz artificial de ligeiro tremor.

Ao choque que os olhos levam à luz natural.

Às bactérias de água potável.

À contaminação da água do mar.

À morte lenta dos rios.

Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada,

a não colher fruta no pé,

a não ter sequer uma planta por perto.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber,

vai afastando uma dor aqui,

um ressentimento ali, uma revolta lá.

Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila

e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada,

a gente só molha os pés e sua o resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola

pensando no fim de semana.

E se no fim de semana não há muito que fazer,

a gente vai dormir cedo

e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.

A gente se acostuma a não falar na

aspereza para preservar a pele.

Se acostuma para evitar sangramentos,

para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar,

se perde de si mesma.

O HOMEM É O ÚNICO SER QUE SE ADAPTA AO MEIO

TRANSITÓRIO DAS MARAVILHAS E TAMBÉM

DAS INUTILIDADES QUE CRIA E QUE

EM GRANDE PARTE DELAS PELO EXCESSO

DE EGOÍSMO E PREPOTÊNCIA,

INFELIZMENTE ACABA PERDENDO O CONTRÔLE.

ÁS VEZES PENSO QUE NÃO É UMA QUESTÃO

DE SE ACOSTUMAR, MAS SIM DE COMFORMISMO.

SE ACOSTUMAR É DE ALGUM MODO ACEITAR OS FATOS

ABSTRAÍ-LOS CONSCIENTEMENTE E SEGUIR EM FRENTE.

MAS SE CONFORMAR É MUITAS VEZES

UM ATO COVARDE DE DESISTIR SEM AO MENOS TER

TENTADO LUTAR...



A vida de uma pessoa é inexplicável, eu dizia a mim mesmo.
Não importa quantos fatos sejam narrados, quantos detalhes
sejam fornecidos, o essencial sempre resiste às palavras.
Dizer que alguém nasceu em tal lugar, foi para outro,
fez isso e aquilo, casou-se com tal mulher e teve tantos filhos,
viveu, morreu, escreveu tais livros, participou de tal batalha,
construiu tal ponte – nada disso nos diz muita coisa.
Gostamos todos de ouvir histórias, como quando éramos pequenos.
Imaginamos a verdadeira história dentro das palavras e nos colocamos
no lugar da personagem, supondo que a compreendemos porque nós nos compreendemos. Isso é um engano. Existimos para nós mesmos,
talvez; até podemos, de vez em quando, vislumbrar quem somos.
Mas, afinal, nunca podemos ter certeza e, à medida que continuamos a viver,
vamos nos tornando cada vez mais opacos, cada vez mais conscientes de nossa própria incoerência. Ninguém é capaz de atravessar a fronteira do outro, pelo simples fato de que ninguém consegue ter acesso a si próprio.

Paul Auster


Amanhece!

E neste clarear tão delicado,

surgem vultos e formas

que ontem não estavam aqui.

São detalhes,

são figuras que,

resgatados do passado,

insistem em voltar.

Dentre elas, teu olhar

que, mesmo tão brilhante,

ainda não despertou!

Nenhum comentário:

Postar um comentário